terça-feira, 14 de abril de 2015

#13 - O NOVO HOMEM, Amélia Veiga

Traz nos olhos punhais
e mensagens secretas...
E zagaias de sonho
nas mãos negras, desertas...

Olha para nós a direito
e tem um riso branco
que lhe dilata o peito...

Passa um frio entre os homens
de receio e de espanto...

1961

sexta-feira, 13 de março de 2015

#12 - "Meu senhor arcebispo, and'eu escomungado", Diogo Pezelho

Meu senhor arcebispo, and' eu escomungado,
porque fiz lealdade; enganou-m'i o pecado.
        Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Se traiçon fezesse, nunca vo-la diria;
mais, pois fiz lealdade, vel  por Santa Maria,
        Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Per mha malaventura tive um castelo em Sousa
e dei-o a seu don', e tenho que fiz gran cousa:
        Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

Per meus negros pecados, tive um castelo forte
e dei-o a seu don', e ei medo da morte.
        Soltade-m', ai, senhor,
e jurarei, mandado, que seja traedor.

sábado, 17 de janeiro de 2015

#11 - É BOA A GUERRA, Stephen Crane

Não chores, rapariga, é boa a guerra.
Lá porque o teu rapaz ergueu as mãos ao céu
E a galope o cavalo se perdeu,
Não chores, não.
É boa a guerra.

Tambores de regimento rufam roucos,
E esta gente sequiosa de lutar
Nasceu para a recruta e pra morrer.
A inexplicada glória os sobrevoa,
É grande o deus da guerra, e é seu reino
Um campo com milhares a apodrecer.

Não chores criancinha, é boa a guerra.
Porque o teu pai tombou na lama da trincheira,
Esfacelado o peito e já sem vida,
Não chores, não.
É boa a guerra.

Bandeiras crepitando esvoaçantes,
Águias douradas, rubras! Esta gente
Nasceu para a recruta e pra morrer.
Mostrai-lhe as eficácias do massacre,
Dizei-lhe da excelência de matar,
De um campo com milhares a apodrecer.

Mãe cujo amor é qual botão mesquinho
Ne esplêndida mortalha de teu filho,
Não chores, não.
É boa a guerra.



(versão de Jorge de Sena)