segunda-feira, 26 de setembro de 2016

#16 - VERSOS À GRÉCIA, Fausto Guedes Teixiera

Mata o amor da Pátria o amor da Humanidade,
E ao pé da nossa Pátria a Humanidade o que é?!
Só em face da morte é que existe a igualdade;
Mesmo entre irmãos, na vida, há distância até.

Espírito que o mundo em teu braço agarras,
São debaixo do céu os homens tão dif'rentes!
P'ra defender os mais, sentimo-nos com garras,
Mas, p'ra nos defender, temos até os dentes.

Aos gritos dos clarins da velha Grécia em p'rigo,
O grande coração desse povo aviltado
Se em todos encontrou um coração amigo,
Fez do homem mais fraco um heróico soldado.

A nossa linda terra é Deus que no-la guarda!
Mas para libertar, convosco,o vosso solo,
Só não há-de saber pegar numa espingarda
Quem não souber pegar numa criança ao colo.

Há mil bocas de fogo em cada peito: é abri-lo!
Nas bocas dos canhões há corações a arder!
Fala-se em pátria? Basta! É o seu torrão aquilo
Que eles defendem? Basta! Eles hão-de vencer.

Lutar-se braço a braço e fibra contra fibra,
É o que a nossa razão e consciência ensina;
Não gosto do punhal, mas quando quem o vibra
É fraco e aviltado, é uma arma divina!

Porque sou, como vós, dum país ameaçado,
Eu compreendo, agora, o vosso ódio bem;
Amanhã entrarão no meu país amado
E tentarão matar os meus irmãos também.

Que importa? Ao expirar coberto de mil f'ridas,
Eu direi para mim, mais viva a fé que tinha,
Que todas as nações poderão ser vencidas,
Há uma só que nunca o pode ser: é a minha!

Pois pensai vós também que, seja como for,
Não há nada e ninguém que aniquilar-vos possa,
E a bandeira que ergueis, de que nem sei a cor,
Há-de tomar no ar as lindas cor's da nossa.

Sofrereis? Certamente! E que importa sofrer?
Só a dor purifica e torna a vida bela!
Quem me dera uma hora igual, p'ra combater!
A minha Pátria assim, para morrer por ela!

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

#15 - "A que morreu às portas de Madrid,", Reinaldo Ferreira

A que morreu às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
Teve a sorte que quis,
Teve o fim que escolheu.
Nunca, passiva e aterrada, ela rezou.
E antes de flor, foi, como tantas, pomo.
Ninguém a virgindade lhe roubou
Depois dum saque -- antes a deu
A quem lha desejou,
Na lama dum reduto,
Sem náusea mas sem cio,
Sob a manta comum,
A pretexto do frio.
Não quis na retaguarda aligeirar,
Entre «champagne», aos generais senis,
As horas de lazer.
Não quis, activa e boa, tricotar
Agasalhos pueris,
No sossego dum lar.
Não sonhou minorar,
Num heroísmo branco,
De bicho de hospital,
A aflição dos aflitos.

Uma noite, às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
À hora tal, atacou e morreu.

Teve a sorte que quis.
Teve o fim que escolheu.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

#14 - A UN ESTUDIANTE CAÍDO EN EL FRENTE DEL ESTE EN 1941, José Luis García Martín

No vivió muchos días, pero sí grandes días.
Coleccionaba tardes silenciosas,
altas noches serenas,
sueños de niño que ha crecido de pronto
y no sabe qué hacer con tanta vida.
Los frutos caen cuando están maduros.
Él cayó antes de tiempo, pero a tiempo.
Sus vacaciones nunca terminaron.
No había cumplido veinte años. Nunca
enganó a una mujer,
delató a un compañero,
cerró las manos con codícia,
suspechó que sus padres le mentían,
que las palabras más hermosas
-- patria, Dios, destino, sacrifício --
eran sólo coartada de canallas.
Ya es leve tierra en dura tierra ajena.
Ninguna tierra fue dura para él.
Donde él estaba, estaba el Paraíso.
Si le queríais, no lloréis:
sonreíd como él sonreía
cuando una bala, piadosa, lo encontro.